Ordem urbana e inclusão: o desafio de Goiânia

28 de abril de 2025

Em uma metrópole em processo de reestruturação como Goiânia, o ordenamento dos espaços urbanos transcende a estética ou a fluidez da mobilidade: trata-se de um imperativo estratégico para o desenvolvimento socioeconômico. Nesse cenário, a iniciativa da Prefeitura em reorganizar a Região da 44 revela-se medida sensata, voltada à harmonização entre legalidade, justiça tributária e inclusão social.

A informalidade, embora frequentemente romantizada como expressão de resiliência frente à exclusão, carrega consequências profundas. A ocupação desordenada das vias públicas compromete a mobilidade, a segurança e o próprio direito dos cidadãos ao usufruto da cidade em que moram. Simultaneamente, desestrutura o tecido econômico.

Criar condições para que ambulantes sejam integrados à formalidade, com centros comerciais adequados, incentivos financeiros e apoio à qualificação, não representa repressão, mas sim modernização urbana com senso de justiça. Significa restaurar o princípio de isonomia econômica: o comerciante formal, que arca com tributos, encargos e responsabilidades, não deve concorrer em desigualdade com quem atua à margem do sistema.

Muitos ambulantes são chefes de família, vítimas do desemprego e da informalidade estrutural. Ainda assim, não se pode ignorar que há milhares de trabalhadores formais, pequenos empresários e funcionários de estabelecimentos comerciais igualmente dependentes da ordem e da legalidade para manterem seu sustento. A equação que equilibra inclusão e organização exige políticas públicas sensíveis, diálogo e planejamento.

A informalidade, para uns, é reflexo de necessidade; para outros, expressão de ilegalidade. O consenso, no entanto, está nos prejuízos. O trabalhador informal, desprovido de proteção social, acesso ao crédito e qualificação, permanece vulnerável. O Estado, por sua vez, perde em arrecadação e vê crescer os custos com fiscalização e seguridade. O País, como um todo, sacrifica produtividade, dinamismo e equidade.

Estudos indicam que a informalidade retira do PIB cerca de 11% em arrecadação, principalmente pelo trabalho não registrado. Esse cenário não apenas compromete o crescimento econômico, como perpetua desigualdades e ciclos de exclusão social.

O desafio não se limita à 44. Outras regiões emblemáticas de Goiânia, como Campinas e o Centro, padecem dos mesmos males e carecem de intervenção. A desorganização crônica do espaço urbano inviabiliza o pleno funcionamento do comércio, afugenta investimentos e estimula uma economia paralela, instável e desassistida. E Goiânia vive um momento decisivo: se reestruturar sem abrir mão da ordem e da capacidade de inclusão.

Organizar o espaço urbano é como afinar uma orquestra. Não basta silenciar os instrumentos desafinados, é preciso integrá-los à harmonia do conjunto. Goiânia precisa soar como uma cidade que respeita a lei, acolhe seus cidadãos e cresce com justiça. Afinal, quando cada peça ocupa o lugar certo, a cidade — como uma grande sinfonia — encontra seu ritmo e avança em direção ao futuro.

 

Geovar Pereira
Presidente da CDL Goiânia e vice-presidente da CNDL

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