A relação entre benefícios sociais e a participação dos brasileiros no mercado de trabalho configura um tema intrincado, permeado por desafios. No cerne da questão está a persistência de uma realidade paradoxal: programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, essenciais para a mitigação da pobreza extrema, podem, inadvertidamente, desestimular a busca por oportunidades formais de emprego. Esse dilema se manifesta de forma contundente no setor de comércio serviços que tem dificuldades para atrair e reter mão de obra qualificada.
Historicamente dinâmico, o mercado de trabalho na capital enfrenta um entrave singular. Empreendedores têm reportado desafios crescentes e persistentes para a contratação de trabalhadores. A problemática não está apenas relacionada à escassez de mão de obra disponível, mas também ao desinteresse por parte de muitos que se encontram em uma posição de dependência dos programas de assistência social.
Essa dinâmica decorre, em grande medida, da percepção de risco associada ao trabalho formal. Para famílias que dependem do Bolsa Família, o ingresso no mercado pode representar a perda de um benefício seguro e garantido. No entanto, tal evasão impacta profundamente a realidade do setor produtivo. No comércio, a falta de profissionais para ocupar vagas operacionais impede a expansão das empresas e compromete a qualidade do atendimento. Pequenos negócios, que já lidam com margens financeiras apertadas, precisam aumentar os custos para tentar atrair mão de obra. A pressão ameaça a sustentabilidade das empresas, criando um ciclo prejudicial que afeta consumidores, trabalhadores e empreendedores.
Para a CDL Goiânia, a preocupação com essa questão não é recente. A entidade, que acompanha de perto os desafios enfrentados por comerciantes e empresários locais, têm reiterado a necessidade de políticas públicas que equilibrem a assistência social com estímulos à empregabilidade. A proposta é clara: criar mecanismos que permitam a transição gradual para o mercado de trabalho formal, sem que isso implique na perda do benefício.
Tal estratégia poderia incluir, por exemplo, a manutenção parcial do benefício durante um período de adaptação ao novo emprego, além de incentivos fiscais para empresas que contratem trabalhadores oriundos de programas sociais. Medidas como essas não apenas reduziriam a resistência ao emprego formal, como também fortaleceriam o mercado de trabalho, promovendo inclusão social de forma sustentável.
É preciso também repensar a estrutura dos benefícios sociais para que deixem de ser um ponto final no combate à pobreza e passem a funcionar como uma ponte para a autonomia financeira. Nesse contexto, a capacitação profissional deve ser vista como prioridade, garantindo que os cidadãos tenham condições reais de competir no mercado de trabalho e conquistar remunerações dignas.
O desafio que se apresenta exige uma abordagem integrada e sensível às nuances da realidade brasileira. Por um lado, é imprescindível reconhecer a importância dos programas de transferência de renda na mitigação da desigualdade. Por outro, é premente desenvolver políticas que não apenas combatam a pobreza, mas também incentivem a independência e estimulem a produtividade.
Geovar Pereira, presidente da CDL Goiânia